Divulgamos aqui, a pedido de um dos nossos Associados, um artigo de Opinião, de Henrique Pereira dos Santos, sobre as Operações integradas de gestão da paisagem (OIGP)
Operações integradas de gestão da paisagem (OIGP)
por henrique pereira dos santos,
em
02.07.22
Ninguém me
tira da cabeça que uma das razões da relativa, sublinho a relativa, pobreza de
Portugal está na nossa imensa capacidade para cometer os mesmos erros vezes sem
conta, com base na nossa imensa capacidade para dar nomes diferentes às mesmas
coisas.
Estive a
ler uma entrevista de Fernanda do Carmo - que tenho como pessoa razoável -,
directora geral do Ordenamento do Território, no suplemento AgroVida, do jornal
VidaEconómica.
O título
da entrevista, e grande parte do seu conteúdo, gira à volta da ideia de que
"a adesão dos proprietários florestais é crucial para o sucesso das Áreas
Integradas de Gestão da Paisagem".
Estas
Áreas Integradas de Gestão da Paisagem são mais uma das declinações da mesma ideia repetida há mais de 150 anos e nunca demonstrada na
prática, em Portugal: "Importa dar-lhes [aos proprietários] informação de
suporte à decisão, demonstrando os ganhos de retorno económico que poderão vir
a ter no futuro, face à realidade atual, cumulando investimento público disponível,
o aumento da produtividade a prazo, adveniente de uma gestão com escala e
profissionalismo, a remuneração dos serviços dos ecossistemas, a redução de
perdas por incêndio rural alcançada com a gestão, bem como a redução de
despesas avulsas de limpeza de material combustível impostas".
Ou seja, a
velha ideia de que os proprietários e gestores não percebem nada do que andam a
fazer e, portanto, o Estado vai-lhes demonstrar a sua estupidez e ignorância,
como tem vindo a fazer nos últimos 150 anos, pelo menos, desde que o iluminismo
conseguiu vender a ideia de que a gestão florestal não era uma actividade
económica normal, mas um desígnio colectivo com enormes benefícios para todos.
Benefícios
esses que só não se verificam hoje pelos atavismos de pastores e outros
ignorantes assassinos de árvores, coligados com a ganância de produtores
florestais que só pensam no seu lucro e, por isso, escolhem modelos de gestão
lucrativos no curto prazo, mas muito menos úteis à sociedade que os modelos de
gestão de lucro diferido para "amanhãs que cantam".
O problema
é que esses matarruanos dos agricultores, pastores, produtores florestais já
ouviram o mesmo canto de sereia vezes sem conta, fosse no tempo das
florestações da segunda metade do século XIX e primeira do século XX, fosse nos
famosos dinheiros do Banco Mundial, fosse no regulamento 280 qualquer coisa,
fosse nas ZIFs, seja agora com o pomposo nome de Operações Integradas de Gestão
da Paisagem.
Considerando-se
a adesão dos produtores florestais crucial para processos que duram mais de
vinte anos antes de dar o retorno prometido, o que significa que a confiança no
que se vai passar nesses vinte anos é o ponto chave - para os ingénuos que
ainda acreditam que sim, que ao fim desses vinte anos as coisas vão ter o
retorno prometido hoje, como se alguém pudesse saber qual serão as condições de
mercado dos produtos florestais daqui a vinte anos - o que promete o Estado, via
Fernanda do Carmo?
"O contrato assinado com as entidades responsáveis pelas Áreas Integradas de Gestão da Paisagem prevê o apoio financeiro à sua capacitação e funcionamento [está o produtor florestal a pensar que afinal primeiro vão ensinar os que depois nos vêem ensinar a nós e ainda lhes pagam para eles funcionarem, mas pagar-me a mim, diretamente e já, os serviços dos ecossistemas é que está quieto] por um período máximo de dois anos, em curso, tendo em vista constituírem as entidades gestoras da futura Operação Integrada de Gestão da Paisagem, identificarem, mobilizarem e envolverem os proprietários, promoverem o cadastro da propriedade onde este não exista e elaborarem o projeto de Operação Integrada de Gestão da Paisagem [está o matarruano a pensar: então é fazer como nas ZIF, pagam dois ou três para eles estudarem como se faz, e depois, quando estiverem em condições de avançar, fecha-se tudo porque acabou o financiamento]. As entidades que concretizam com sucesso o que lhes está cometido nesta fase inicial de capacitação, verão a Operação Integrada de Gestão da Paisagem aprovada e garantido o financiamento das ações de reconversão e valorização a realizar no terreno nos primeiros dois anos, via PRR [e pensava o ignorante que o problema era a gestão da paisagem no longo prazo, afinal parece que o objetivo é reconverter, não é gerir, nos próximos dois anos]. O financiamento da manutenção e gestão e remuneração dos serviços dos ecossistemas nos vinte anos seguintes será por via do Fundo Ambiental".
Neste
ponto os matarruanos e ignorantes gestores já perceberam tudo, e vão à sua
vidinha, tratar das couves e do jantar que para histórias da carochinha sempre
é melhor a telenovela ou o telejornal, tanto faz que se distinguem pouco.
Nem o
Fundo Ambiental é seguro, nem tem dimensão financeira para o que se está a
prometer, nem se sabe se existirá ainda daqui a meia dúzia de anos e eu vou
entregar a gestão das minha terras agora à espera que algum dia aquilo tenha
retorno com base em ideias extravagantes de técnicos que não põem um cêntimo do
seu dinheiro naquilo que dizem que é muito rentável?
No que diz
respeito à gestão de terras marginais, andamos nisto há décadas, ainda há mais
tempo que na discussão da localização do aeroporto de Lisboa.
A mim só me
faz lembrar os que ainda hoje continuam a defender que a felicidade e a justiça
chegam com a apropriação colectiva dos meios de produção, uma ideia sempre
falhada quando aplicada, mas cujo falhanço se deve a circunstâncias geríveis,
não à ideia em si, essa é boa, é pena que uns homens maus a tenham sempre
deturpado, quando tiveram poder para a aplicar, de acordo com os seus
defensores.
Algures
numa universidade qualquer, já estará a nascer um novo nome para substituir
este quando, no fim dos tais dois anos de aplicação dos dinheiros do PRR, se
verificar que, tal como das outras vezes, afinal os resultados não batem certo
com as promessas.
Lá
deixarmo-nos destes floreados e pagar, já hoje e diretamente, aos gestores da
paisagem os serviços que queremos obter, isso é que não, que eles são
ignorantes, quando não mesmo estúpidos, pouco qualificados, atávicos e, em caso
algum, devem ser deixados a tomar conta da sua vida, como se tivessem a
capacidade de saber o que é melhor para eles.
Publicado em: 27-10-2022
Link:
https://corta-fitas.blogs.sapo.pt/operacoes-integradas-de-gestao-da-7686056
ΦΦΦ
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